O governo federal promoveu na última quinta-feira um seminário sobre a implantação dos centros regionais de Referência em Crack e Outras Drogas. Na oportunidade a presidente Dilma Rousseff defendeu maior controle das fronteiras, por onde atravessam grande parte das drogas que são distribuídas no país. Além disso, Dilma destacou os investimentos feitos pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas universidades federais e, em especial, no corpo docente dessas entidades como fundamentais para o enfrentamento ao crack.
Na visão da presidente a valorização dada às universidades federais contribui para essa devolução que pode ser feita à sociedade brasileira. A participação das universidades federais é considerada estratégica para o pioneirismo desses centros de referência, que serão responsáveis também pela definição de políticas de reinserção.
O governo defende um trabalho de prevenção, pelo qual possa impedir que mais pessoas sejam vítimas do crack. Para isso, segundo o governo, são necessárias intervenções visando tratamentos, clínicas e enfermarias especializadas.
No discurso o caminho é o mais correto e seguro a ser seguido. Resta saber se na prática isso passará a ocorrer. Atualmente isso não acontece, como comprova uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgada na última sexta-feira. O estudo revela que os usuários de crack ficam mais tempo presos do que em tratamento contra a droga. A pesquisa, desenvolvida por 12 anos com 107 dependentes, indica que, nesse período, em média, os usuários ficaram presos por um ano e oito meses, e permaneceram em tratamento, em média, por três meses.
O trabalho é um diagnóstico do que o governo faz hoje, da forma como vem sendo tratado o problema crack no país. Está sendo priorizada uma política repressiva, voltada para os usuários da droga, quando a questão deveria ser tratada como um problema de saúde pública, como a própria presidente da República defende.
É sempre bom destacar que existe todo um contexto de risco e violência em torno do crack, mas é possível fazer com que o usuário vá aprendendo, aos poucos, a se adaptar a esse contexto, a não se colocar tanto em risco, seja em risco de overdose como em risco de se envolver em situações de violência, como brigas entre companheiros de consumo ou conflito com a polícia ou mesmo contraindo dívida de droga. A pesquisa deixou isso muito bem claro.
A pesquisa mostra ainda que há fatores comuns que fizeram com que dependentes conseguissem se afastar do consumo do crack. A procura por tratamento, a religião e a inserção no mercado de trabalho ajudaram, de modo geral, os usuários a se distanciarem da droga.
É um importante diagnóstico para um governo que tem um programa específico de enfrentamento ao crack. Basta então trabalhar nessa direção, amparado em estudos sérios, para que os resultados possam ser positivos. A repressão nem sempre é o mais indicado.
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