Corrupção facilita ação de criminosos nas fronteiras brasileiras
Na segunda reportagem da série especial, repórteres flagraram o comércio ilegal de armas, oferta de drogas, contrabando nos rios e até falsificação de selos do Inmetro.
Na segunda reportagem da série especial sobre as fronteiras terrestres
brasileiras, os repórteres Cesar Tralli, Robinson Cerântula e Fernando Ferro
mostram o comércio ilegal de armas, a oferta de drogas, o contrabando nos rios e
até a falsificação de selos do Inmetro. Tudo isso facilitado pela corrupção.
Onde tem rua de comércio popular no Paraguai quase sempre tem uma loja de
arma. São 32 só na fronteira com o Paraná. À venda, há pistolas automáticas de
grande precisão, as mesmas usadas no Brasil para assaltar e matar.
O contrabando para Foz do Iguaçu é garantido. “Entrega lá em Foz. Se quiser,
agora mesmo, eu levo para você. Depende do movimento. Pode levar 15 minutos,
meia hora, uma hora. Passa”, garantiu o vendedor.
É de moto que as armas entram ilegalmente no Brasil. Uma delas, apreendida
cruzando a ponte da Amizade, tinha uma pistola automática sendo levada no fundo
falso do banco. Em outra moto, a arma estava sendo transportada dentro do
reservatório de óleo.
O movimento é frenético. São 30 motos por minuto passando na ponte.
“É um transporte muito rápido, ágil e o efetivo aqui seria meio que inviável
para fiscalizar todas as motos que passam. Não tem 100% de eficiência”, admitiu
o policial da Força Nacional de Segurança Breno Nogueira Amaral.
Quinhentos quilômetros para cima da linha de fronteira e mais um perigoso
corredor do crime: a passagem de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para Ponta
Porã, em Mato Grosso do Sul. É praticamente impossível saber onde uma cidade
termina e onde a outra começa, em outro país. É assim ao longo de mais de dez
quilômetros.
Nossos produtores deram uma voltinha no centro. Em apenas dez minutos,
ouviram todo tipo de oferta: munição, remédio falso, cocaína.
A novidade do momento, na região, é o selo falsificado do Inmetro para
empurrar o contrabando de carrinhos de bebê e enganar o consumidor no
Brasil.
Em uma loja, tem falsificação também para capacete de moto. O vendedor é
descarado na mentira: “Se você colocar o selinho, já é brasileiro”, disse.
Um golpe vendido no atacado: “Se levar por cartela, é mais barato. Se levar
só um, está R$ 5”.
O selo de qualidade do Inmetro é uma exigência da lei. Só pode ser vendido o
equipamento de segurança aprovado em testes de resistência. O capacete de selo
falso que a equipe do JN comprou no Paraguai racha no meio no teste.
“Ele pode ser utilizado, de jeito nenhum. Não oferece segurança nem proteção
ao usuário”, alertou um funcionário do Inmetro.
Saúde em jogo também com cigarro pirateado. “Neles há, inclusive, selos
falsificados da Receita Federal do Brasil. É a prova de que o cigarro é
destinado para o mercado brasileiro”, destacou o funcionário.
São 60 fábricas do lado paraguaio e quase toda a produção é
contrabandeada.
“Se o Paraguai produz 65 bilhões de cigarros e consome apenas 3 bilhões, nós
temos esse diferencial todo despejado no mercado brasileiro”, afirmou Luciano
Barros, da Associação Brasileira de Combate à Falsificação.
É pela água que 70% de todas as muambas cruzam a fronteira do Paraguai para o
Brasil. Em uma faixa de 200 quilômetros, já foram mapeados 3 mil pontos de
travessia, os chamados portos clandestinos.
A equipe de reportagem do Jornal Nacional flagrou jovens e adolescentes
carregando caixas e mais caixas de muamba. Um barco carregado de mercadorias e
um rapaz só transportando-as. O rapaz escondeu o rosto para não aparecer.
À noite, um formigueiro de gente pegando muamba da margem e transportando
para dentro do Brasil. Só este ano, a Polícia Federal já apreendeu 50 barcos
carregados. Mas ainda é difícil fisgar peixes graúdos, como os donos da
mercadoria.
“É difícil porque a extensão do lago é grande. O nosso efetivo não está o
efetivo ideal que necessitaríamos para trabalhar”, admitiu o agente da Polícia
Federal Celso Calori.
Um brasileiro é gerente de porto clandestino em Foz do Iguaçu. Presta serviço
para seis quadrilhas de contrabandistas.
“Pego essa carga ilegal distribuo em vários depósitos. Casas, barracão, em
vários lugares. Vai para o Brasil inteiro. São de várias regiões: Minas, São
Paulo, Bahia, vem de tudo quanto é lugar”, disse ele.
O criminoso diz que todo esquema de transporte e distribuição é movido à
corrupção. “Pago propina para poder trabalhar tranquilo. Depende, varia de R$
50, até R$ 1.000, R$ 10 mil”, revelou.
“Quem não paga o valor exigido sequer consegue transitar com a mercadoria
naquele local”, relatou o promotor de justiça Rudi Burkler.
O promotor de combate ao crime organizado em Foz do Iguaçu já denunciou 160
guardas municipais, policiais civis e militares.
“Alguns policiais, com certeza, vivem mais da remuneração obtida com essa
corrupção do que do próprio salário”, declarou ele.
O chefe da divisão da Receita Federal dos estados do Paraná e de Santa
Catarina, Sérgio Lorente, declarou que existe um mapeamento dos portos
clandestinos e que está aguardando recursos federais para retomar as operações
em larga escala na fronteira.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Paraná, neste ano, oito
policiais civis foram demitidos por má conduta. E, nos últimos três anos, 130
policiais militares foram afastados.
A Polícia Federal informou que, com o aumento do número de servidores nas
unidades de Foz de Iguaçu e Guaíra, houve um crescimento nas operações de
fiscalização na região
Fonte: JORNAL NACIONAL
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