Agência Câmara de Notícias -
08/08/2011
Sindicatos ligados ao servidor público e deputados,
inclusive da base governista, são contrários à proposta do Poder Executivo que
institui a previdência complementar para os servidores públicos (PL 1992/07). Petição eletrônica elaborada pelo Sindicato dos
Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União
(Sindilegis), assinada por cerca de 60 entidades sindicais, considera a proposta
prejudicial aos novos servidores. Entre as assinantes, estão a Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força
Sindical.
Segundo a petição, o projeto equipara trabalhadores do
regime celetista a servidores públicos apenas no plano previdenciário, lembrando
que há direitos assegurados apenas aos trabalhadores da iniciativa privada, como
o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a participação nos resultados
da organização.
“O projeto tornará os cargos efetivos e dos membros de
Poder pouco atraentes para os bons profissionais do mercado, fragilizando
carreiras essenciais para o funcionamento e defesa do Estado, como as de
delegado, policial, auditor, procurador, magistrado, ministro da cúpula do Poder
Judiciário e do TCU”, diz a petição.
Segundo o texto, o plano oferecido pela Fundação da
Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp) se equipara aos
planos vendidos por qualquer banco privado, “cujas características têm caráter
muito mais financeiro do que previdenciário, sem garantia de recebimento do
benefício ao longo da trajetória de vida do segurado.”
Prejuízos
Para o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), a proposta do
Executivo cria para o servidor uma espécie de previdência privada, que pode a
qualquer momento deixar de atender os direitos do segurado. “Um fundo de
natureza privada fica sujeito à instabilidade do mercado e das crises
econômicas”, destaca.
O deputado Policarpo (PT-DF) também é contrário à proposta
e acredita que ela deveria ser mais discutida com os servidores e as entidades
que têm interesse direto na matéria, antes da votação. “O único que quer votar
neste momento é o Ministério da Previdência”, disse.
“Essa previdência complementar é muito incerta, pode ter um
bom rendimento, mas, em um momento de crise, pode vir até a falir. É muito mais
seguro para o servidor se aposentar pela média das contribuições do que receber
pela previdência complementar”, acrescentou.
Deficit da previdência
O deficit da previdência do funcionalismo público, estimado
em cerca de R$ 52 bilhões anuais, foi apontado como o principal argumento do
governo para a aprovação do PL 1992/07. A proposta foi uma das medidas do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) apresentadas durante o governo Luiz
Inácio Lula da Silva. Na época, o governo defendeu que a aprovação do projeto
reduziria os gastos da União com pensões e aposentadorias, abrindo espaço para o
aumento dos investimentos públicos.
O deputado Policarpo lembra que, de imediato, a medida vai
representar gasto maior para o governo, devido à perda de arrecadação resultante
da exclusão, da base de contribuições para o regime próprio de Previdência, da
parcela de remuneração dos servidores. Ele acredita que o deficit atual é
conjuntural, resultante da redução do número de admissões no serviço público com
a terceirização no Poder Executivo “Já no Judiciário, os servidores em atividade
pagam com tranquilidade os aposentados”, disse.
As entidades sindicais que assinaram a petição eletrônica
afirmam que o PL 1992 não resolve esse suposto desequilíbrio da Previdência e
também questionam a existência do débito. “Vários estudos técnicos mostram que a
previdência do funcionalismo não tem débito”, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, um
dos diretores-executivos da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público
Federal (Condsef) – uma das entidades que assinou a petição. Silva considera o
projeto inadequado e diz que deve ser rejeitado, para que “um modelo adequado
para a previdência continue a ser discutido”.
Conforme carta enviada pelas entidades contrárias à matéria
aos parlamentares, “os servidores públicos civis têm sido os únicos alvos das
reformas previdenciárias, enquanto o deficit dos militares federais e dos
aposentados e pensionistas da segurança pública do Distrito Federal (custeados
diretamente pela União por meio do Fundo Constitucional - FCDF) são cada vez
maiores, sem que nada seja feito para esses dois segmentos, responsáveis por 43%
do resultado de 2010”.
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