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25 de outubro de 2011

FOLHA DE BOA VISTA(RR): Fronteira livre facilitou esquema de descaminho de produtos importados


O esquema só foi descoberto agora pelas autoridades, mas, segundo fontes ouvidas pela Folha, há tempos a compra de produtos importados de Miami (EUA) e de outras cidades americanas passa pela Guiana e chega ao Brasil, via Roraima, sem o devido recolhimento de impostos.

Como as atenções sempre estiveram voltadas para a fronteira com a Venezuela, onde o contrabando e descaminho de mercadorias ocorrem com frequência, a fronteira com a Guiana ficou livre para a ação de pequenos compradores e de quadrilhas especializadas em burlar o fisco.

Na última segunda-feira, 17, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu um caminhão carregado de aparelhos eletroeletrônicos e hospitalares avaliados em mais de R$ 1 milhão. As mercadorias entraram no Brasil pela Guiana sem o pagamento dos tributos. O caso é investigado pela Polícia Federal (PF). Os produtos estão retidos na Receita Federal (RF).

As mercadorias estavam identificadas com os nomes dos possíveis donos, com endereços localizados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, entre outros.

Quem conhece o esquema diz que a maneira mais barata de comprar no exterior é pela Guiana. No país não há tributação sobre produtos de informática importados, uma maneira que o governo encontrou de incentivar a informatização do país.

Tais importações são facilitadas por “empresas de courier” (serviços de entrega rápida) situadas em Miami, ou seja, se compra qualquer coisa, em lojas de qualquer lugar dos Estados Unidos, e fornece seu endereço comercial em Miami (que nada mais é do que um endereço de entregas alugado dessas companhias em seu nome).

Estas empresas de courier se encarregam de fazer a encomenda chegar ao cliente em qualquer país do Caribe (frete, transporte e desembaraço aduaneiro), incluindo a Guiana. A fiscalização alfandegária no porto ou aeroporto daquele país é deficiente, o que faz com que esse volume de contrabando seja maior do que se imagina (contêineres sem fim), incluindo-se nesse volume de contrabando até mesmo veículos. 

Outra maneira, segundo revelou uma fonte, é comprar mercadorias por meio de sites dos Estados Unidos (um dos mais usados é o ebay, que é um mercado livre e precisa fazer uma conta para utilizá-lo), Panamá e China e pedir para entregar em Georgetown, capital da Guiana, por meio do correio internacional. Para receber o produto, é preciso ficar pelo menos cinco dias na cidade. A entrega pode até ser feita no hotel, onde o cliente está hospedado.

Contudo, tanto quem usa as empresas de courier quanto o correio internacional, a difícil tarefa é burlar a fiscalização das autoridades fazendárias brasileiras, na fronteira com a Guiana. Quando consegue, é possível ter um produto – ainda que de maneira ilegal – de boa qualidade e quase que pela metade do preço.

Outra fonte contou para a reportagem que também é possível comprar produtos importados de brasileiros que vivem na cidade fronteiriça de Lethem. Eles se encarregam de adquirir as mercadorias no exterior e as levam até a fronteira. Só que para entrar no Brasil, a responsabilidade fica por conta do cliente.

Conforme a fonte, essas mercadorias importadas ilegalmente também são absorvidas pelo mercado amazonense. “Muita gente faz isso e faz há tempos. Tem esquema pronto, principalmente com os eletrônicos da moda, como iPad e iPhone. Se esse caminhão que foi apreendido em Boa Vista chegasse aqui em Manaus, tinha lojista do Centro que compraria ele inteirinho, na hora. Aqui é muito mais fácil de vender”, afirmou. Caminhoneiro preso com mercadorias é libertado.

A carga apreendida na segunda-feira, de produtos originais e de boa qualidade, dificilmente seria para o mercado interno, embora existam relatos de que mercadorias importadas ilegalmente possam ser encontradas no comércio local, segundo apurou a reportagem.

Algumas hipóteses são levantadas quanto aos caminhos que possivelmente seriam percorridos pelas mercadorias até chegar aos destinatários. Os produtos poderiam ser enviados aos poucos – descaminho “formiguinha” – por transportadoras, Correios, companhias aéreas e transporte interestadual, para não levantar suspeita. Tudo de uma única vez, como foi feito na ocasião da entrada no país, seria muito arriscado, em razão da fiscalização interestadual.

O motorista do caminhão, Jamil de Almeida Souza, preso em flagrante acusado de descaminho, foi colocado em liberdade anteontem, por meio de um relaxamento de prisão. Ele estava recolhido na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo.

Provavelmente ele não tinha conhecimento da importância da carga que estava transportando. Foi pago apenas para fazer o frete. Possivelmente seu contratante é quem seria o responsável por distribuir as mercadorias.

No momento de sua prisão, Souza disse aos policiais que atravessou a fronteira pelo município de Normandia e não Bonfim, comumente utilizado por quem vai para a Guiana. É possível que os produtos tenham sido levados até o caminhão de barco, pelo rio Tacutu, que divide os dois países. 

Receita Federal cataloga produtos apreendidos

O delegado da Receita Federal, André Spagnuolo, disse à reportagem que os produtos apreendidos pela PRF estão sendo catalogados. Cada mercadoria receberá um código com o preço equivalente. A expectativa é que esse trabalho seja concluído em menos de um mês.

Ainda que sejam oriundos de aquisição irregular, qualquer doação só pode ser feita mediante decisão judicial. Entre as regras para a destinação, primeiro são doados os produtos para Receita Federal, depois órgãos do Ministério da Fazenda, em seguida outros órgãos federais, como as polícias Federal e Rodoviária Federal, depois instituições estaduais e municipais e, por fim, entidades sem fins lucrativos. 


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