Autor(es): » VICTOR MARTINS |
Correio Braziliense - 20/03/2012 |
Participação de componentes estrangeiros na produção nacional já é recorde. Número de setores com balança comercial deficitária dobrou
Os produtos importados tomaram conta das prateleiras do país. Pelas estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), um em cada cinco bens consumidos no Brasil vem de fora. Em alguns setores, a proporção é maior. No segmento de informática e eletrônicos, por exemplo, para cada dois produtos, um é produzido no exterior. O volume de insumos estrangeiros utilizados pelas fábricas nacionais também é elevado. Em 2011, corresponderam a 21,7% dos componentes — um recorde.
Até mesmo os têxteis, um dos segmentos mais abatidos pela concorrência internacional, dependem da importação para se manter no mercado. O setor trouxe de fora 28,5% dos insumos usados na produção. Na indústria calçadista, o ingresso de importados também já é alarmante: atingiu a marca de 42,6%.
Para o setor fabril, esses números evidenciam o avanço da desindustrialização no país. Mais que isso, sintetizam os efeitos do chamado custo Brasil (carga tributária exagerada, logística e transporte deficientes e juros reais ainda elevadíssimos), que, ao lado do dólar desvalorizado frente ao real, vem dilapidando o crescimento da indústria e prolongando a crise do setor. Pelos dados da CNI, 10 segmentos industriais carregam uma balança comercial deficitária. Ou seja, o custo com os insumos importados supera a receita com exportações. Em 2005, esse cenário se resumia a cinco áreas.
"Esses números mostram que o indústria manufatureira está se transformando em importadora", lamentou Flávio Castelo Branco, gerente executivo da CNI. "Se nada for feito para atenuar os custos sistêmicos, o quadro deve se agravar, com o crescimento da economia (Produto Interno Bruto) sendo limitado pelo baixo desempenho da indústria neste ano", alertou. Apenas entre 2009 e 2011, a participação de produtos estrangeiros no consumo cresceu 3,2 pontos percentuais.
Fábio Gallo Garcia, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que, em função do custo Brasil, os empresários estão montando operações baseadas na importação. A seu ver, eles se transformaram em montadores de produtos, trazendo tudo de fora e sem desenvolver tecnologia. "Mas a culpa não é apenas do industrial. O poder público também tem parcela de culpa ao impor tantas barreiras ao setor produtivo", disse.
Expansão só de 3,5%
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com 44 associações brasileiras do setor produtivo aponta para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 3,5% em 2012, um número bem abaixo dos 4,5% da meta projetada pelo governo. O estudo divulgado ontem também mostrou que enquanto a equipe econômica projeta o dólar a R$ 1,80, a iniciativa privada prevê a moeda cotada em R$ 1,75 no fim do ano. |
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