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6 de maio de 2012

Novas fronteiras para as exportações


DINHEIRO antecipa estratégia do governo para ampliar vendas ao exterior. O alvo: 33 países com potencial para produtos manufaturados.

Por Guilherme QUEIROZ
Empresas brasileiras da área de defesa e segurança, que participavam, em fevereiro, de uma missão comercial nos Emirados Árabes Unidos foram surpreendidas por um convite. O xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum, primeiro-ministro e titular do Ministério da Defesa do pequeno país do Golfo Pérsico, chamou a comitiva para apresentar seu portfólio de produtos aos chefes das Forças Armadas. “Passamos mais de uma hora e meia expondo a capacidade da indústria brasileira”, diz Massilon Miranda, diretor de marketing da Condor, especializada em armas não letais. Com exportações para 40 países, a companhia carioca sabe o valor de encontros como esses. Missões de promoção comercial são um importante passo na prospecção de novos mercados para a indústria brasileira. 
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Brasil ganha o mundo: patrocínio de 1.256 ações comerciais busca
diversificar mercados compradores.
 
Agora, o governo Dilma lança um plano integrando o governo e a iniciativa privada, com roteiro e metas para vender produtos manufaturados made in Brazil. Batizado de Estratégia Nacional de Exportações, o plano ainda não foi divulgado, mas já define as ações de promoção comercial até 2014, com base numa lista de países com potencial para absorver exportações de produtos e serviços de maior valor agregado. Segundo a DINHEIRO apurou, ao longo do ano passado, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento analisaram 56 mercados considerados estratégicos para definir quais setores da indústria deveriam ser trabalhados. Ao fim, foram selecionados 33 países, chamados de mercados-destaque, e definido um roteiro de 1.256 ações comerciais para os próximos três anos. 
 
Dentre eles, países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Israel e Irã, e ainda, países africanos, como Angola e África do Sul. “São mercados que, nos últimos cinco anos, mostram um crescimento nas importações acima das economias maduras”, diz Rubens Gama, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Itamaraty. “Não podemos mais ter exportações concentradas num pequeno grupo de países”, afirma Daniel Godinho, diretor de Negociações Internacionais do ministério. “A diversificação é uma questão de sobrevivência.” Com a estratégia, o governo espera ampliar a inserção de produtos de médio e alto valor agregado em mercados estratégicos. Ao analisar os países, Itamaraty e Mdic identificaram quais produtos teriam potencial para vingar em cada destino – e em quais não compensa insistir. 
 
Na China, por exemplo, onde as dificuldades são enormes para industrializados nacionais, a estratégia é apostar em nichos. A vinícola Miolo, por exemplo, logrou furar o bloqueio chinês com uma loja da própria marca em Xangai. “Vestuário, por outro lado, não tem entrada na China, porque o preço deles é muito melhor que o nosso”, afirma Gama. Entre os mercados destaque, há, também, destinos tradicionais, como a União Europeia e os Estados Unidos. Muitos produtos brasileiros já vêm sendo trabalhados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Um dos setores que vêm colhendo bons resultados é o de equipamentos hospitalares. Fundada há 80 anos, a paulista Fanem exportava equipamentos neonatal, como incubadoras, para 40 países quando começou a participar das primeiras ações de promoção comercial, há dez anos. 
 
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Miranda, da condor: exposição ao ministro da Defesa dos Emirados Árabes para ampliar exportações.
 
Desde então, a empresa se tornou figurinha carimbada nas principais feiras do setor, na Alemanha, no Oriente Médio e nos Estados Unidos. “Hoje exportamos para mais de 90 países e esse salto se deve à promoção comercial do País”, afirma Djalma Luiz Rodrigues, diretor industrial da Fanem. No ano passado, a empresa abriu um escritório na Jordânia e uma fábrica na Índia. A estratégia ganha relevância diante das recentes mudanças no perfil das exportações. Em 2000, os produtos manufaturados, ou seja, com algum valor agregado, respondiam por 74,5% das vendas ao Exterior. Essa fatia, no ano passado, caiu para 50,1% dos US$ 256 bilhões exportados, o menor nível já registrado.
 
A meta do governo é frear essa perda de participação da indústria com a diversificação de destinos e agregação de valor, ampliando a participação no comércio global dos 1,42% estimados pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) – que reúne as economias desenvolvidas – para 1,6%, em 2014. Esse esforço inclui até um plano para explorar as potencialidades exportadoras de 22 Estados. Eles participarão de 200 missões comerciais, seguindo um mapa estratégico do Mdic. De qualquer forma, o governo pretende garantir os canais de acesso ao maior número de mercados para as empresas brasileiras. 
 
Uma atenção especial será dispensada à América Latina e África. Além das missões comerciais – 311, ao todo – a estratégia de promoção será complementada por medidas de estímulo às exportações, como financiamento para vendas ao mercado externo. Já existe uma linha de crédito para máquinas e equipamentos destinados a países latinos e outra, ainda em estudo, pretende estimular vendas para países menos desenvolvidos, como os africanos. O governo enxerga cinco países do continente com potencial para setores, como alimentos, máquinas e construção civil: África do Sul, Nigéria, Egito, Moçambique e Angola. A meta é aumentar as vendas em 25% ao ano para a região até 2015.
 
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Cerco argentino derruba embarques
 
Enquanto as empresas brasileiras buscam novos mercados, o comércio com a Argentina sofre com as barreiras que dificultam as importações no país vizinho, o principal sócio do Brasil no Mercosul. Em abril, com as novas exigências burocráticas do governo de Cristina Kirchner para a entrada de produtos estrangeiros, os embarques brasileiros diminuíram 27% em relação ao mesmo mês do ano passado. A Argentina caiu para o quarto lugar como destino das exportações brasileiras, superada pelos Países Baixos. O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, admite que há problemas no comércio bilateral, e diz que o Brasil está disposto a ajudar, inclusive com financiamentos. 
 
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“Quando a economia argentina vai mal, a parceria comercial com o Brasil vai mal. E quando a economia argentina vai bem, a parceria vai bem”, afirmou Teixeira na quarta-feira 2, ao anunciar os dados da balança comercial do quadrimestre, que alcançou uma corrente comercial de US$ 145 bilhões – com US$ 74,6 bilhões de exportações e US$ 71,4 bilhões de importações. Uma reunião para discutir essa ajuda já foi marcada para a próxima semana, em Brasília. “Qualquer ajuda incluirá também um auxílio aos exportadores brasileiros”, diz Teixeira. 
 
(Denize Bacoccina)



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