SERVIDORES PROMETEM GUERRA POR REAJUSTES
Correio Braziliense - 09/01/2014
O funcionalismo promete entrar em guerra com o Palácio do Planalto
em 2015. Seja quem for o eleito, a Presidência da República terá de
enfrentar servidores federais furiosos com a perda de renda imposta por
um acordo assinado em 2012. Até o próximo ano, os trabalhadores terão
recebido 15,8% de aumento salarial desde que o compromisso foi firmado.
Contudo, diante de uma inflação persistentemente elevada, o valor dado
pelo governo se mostrou insuficiente para vencer a carestia. Em vez de
ganho real, os servidores amargarão, ao fim do período, perda de 2,1%. A
resposta para o prejuízo, garantem os sindicalistas, ocorrerá nas ruas.
Representantes
das categorias prejudicadas pretendem dar, já em 2014, uma primeira
mostra do que está por vir caso não sejam atendidos e, os danos
inflacionários, corrigidos. Em pleno ano eleitoral, podem convocar uma
paralisação geral dos serviços públicos, o que significaria o rompimento
do acordo firmado em 2012, quando ficou acertado que não haveria greve
até o vencimento do combinado. A greve deve coincidir com as
manifestações programadas durante a Copa do Mundo, fato que já preocupa o
governo e que resultará em problemas quando 2015 chegar.
A
posição de sindicatos que representa os servidores é um gesto hostil ao
Partido dos Trabalhadores, sigla que comanda o país e que,
historicamente, sempre contou com o apoio explícito da maioria do
funcionalismo, que tomou horror do PSDB, depois do processo de
enxugamento da máquina pública promovido durante o governo de Fernando
Henrique Cardoso. Um dos braços do partido, a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) está encabeçando o movimento de pressão dos
insatisfeitos.
O
próximo presidente terá a missão ingrata de negociar com os
trabalhadores durante seu primeiro ano de mandato, um período que, no
entender dos especialistas, exigirá um forte ajuste nas contas públicas.
Depois de anos de gastos elevados com a justificativa de estimular a
atividade e impedir que a crise se instalasse no Brasil, a fatura
chegou.
O
governo perdeu margem de manobra e tem pouco ou nenhum espaço fiscal
para dar benesses ao funcionalismo. Fazer convergir a vontade dos
servidores com as necessidades do Tesouro Nacional será um desafio
hercúleo. "A racionalidade saiu do campo econômico. A decisão será
política. Mesmo sem espaço para elevar as despesas, são grandes as
chances de o próximo comandante do país conceder novo aumento para o
funcionalismo", diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do
Banco Central.
Pedro
Armengol, secretário adjunto de Relações de Trabalho da CUT, defende
que há dinheiro para reajustar os salários, independentemente da farra
fiscal dos últimos anos, que pode resultar no rebaixamento do país pelas
agências de classificação de risco. "Dizer que 2015 será um ano de
ajuste é manter o olhar fiscalista que vem desde 2008, com a explosão da
crise internacional", diz. "O Estado gasta demais e não se vê o retorno
adequado em saúde, segurança e educação, que não melhoram. "Os
investimentos no serviço público são reduzidos, esse é o problema",
argumenta.
Serviços péssimos
Os argumentos do funcionalismo não comovem os especialistas em contas públicas. Eles, inclusive, não descartam uma rebelião de brasileiros sem emprego público e que dependem dos péssimos serviços oferecidos pelo Estado. Durante o governo Lula, os servidores contabilizaram ganhos expressivos. Tanto que a folha de pagamento do Executivo, desde 2003, aumentou 163,8%. A qualidade do atendimento à população, no entanto, continuou muito aquém do aceitável. Durante a campanha de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff foi eleita, uma das bandeiras do PT era a implantação da meritocracia no governo. A promessa nunca saiu do papel.
Os argumentos do funcionalismo não comovem os especialistas em contas públicas. Eles, inclusive, não descartam uma rebelião de brasileiros sem emprego público e que dependem dos péssimos serviços oferecidos pelo Estado. Durante o governo Lula, os servidores contabilizaram ganhos expressivos. Tanto que a folha de pagamento do Executivo, desde 2003, aumentou 163,8%. A qualidade do atendimento à população, no entanto, continuou muito aquém do aceitável. Durante a campanha de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff foi eleita, uma das bandeiras do PT era a implantação da meritocracia no governo. A promessa nunca saiu do papel.
A
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef),
que representa quase metade do funcionalismo, queixa-se, além da perda
para a inflação, de promessas não cumpridas, como a adoção de planos de
carreira e a regulamentação de benefícios. "São vários os acordos
assinados que não foram cumpridos pelo governo", afirma Sérgio Ronaldo
da Silva, diretor da entidade. Ele garante que, até o fim de janeiro,
serão dados os primeiros passos no sentido de mobilizar os
trabalhadores. "Independentemente de Copa do Mundo e de eleições, já
avisamos ao governo que o enfrentamento vai ocorrer", garante. "Em 2015,
vamos para a rua, mesmo com o discurso de dificuldade fiscal", diz.
Márcio
Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, acredita que a disputa
entre os servidores e o Executivo pode parar na Justiça. "A margem para
novos gastos é pequena. Será uma negociação difícil", observa.
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