'Receita' para acabar com o crime
Todos sabem que o combate ao crime organizado no Rio de Janeiro e no Brasil depende da integração entre diversos órgãos, da luta conjunta envolvendo governos municipal, estadual e federal, Polícias Militar, Civil e Federal, e Forças Armadas, cada um cumprindo, no âmbito de suas atribuições, tarefas no sentido de inibir a atividade criminosa.
Das polícias são cobradas as ações mais evidentes nesta guerra: o enfrentamento direto, a invasão dos morros, a apreensão de armas escondidas, a prisão dos poderosos do tráfico, a presença ostensiva nas ruas. Cobram das Forças Armadas sua participação direta no confronto: se existem para nos proteger de ameaças externas, por que não podem participar mais ativamente de uma guerra que parece perdida?
Dos governos são exigidas ações concretas no controle das penitenciárias, na organização das tarefas, na requisição de força adicional, na distribuição de funções. Mas o que faz o crime organizado ser "organizado"? De onde vem o poder das facções criminosas? Como enfrentam com facilidade o poder público armado? Como minar este poder?
As ações de combate direto ao crime, como se tem visto no Rio de Janeiro por meio das UPPs e do aumento do efetivo de policiais nas ruas, é essencial para que se reduza o domínio do mal sobre a sociedade. Ninguém ousa discordar. Mas são ações que não atingem o coração das organizações criminosas. Como negócio, uma organização criminosa só sobrevive tendo como sustentáculo o seu poder financeiro e a facilidade na aquisição de armamento. Portanto, sem dinheiro em caixa e sem armas, não existe crime organizado. O ataque, então, tem que se voltar para o combate ao acesso dos criminosos às armas e ao fluxo de dinheiro ilegal.
A quem cabe o controle da entrada de mercadoria estrangeira pelas fronteiras, portos e aeroportos ? A quem cabe a fiscalização de renda, aumento de patrimônio, movimentação financeira e enriquecimento ilícito? No Brasil, essas atribuições cabem ao único órgão que até hoje pouco se manifestou sobre o problema da violência e do qual quase nunca foi cobrada publicamente a sua responsabilidade sobre o problema: a Receita Federal.
Ao lado das ações hoje levadas a cabo pelos envolvidos no combate à criminalidade, então, só teremos resultados concretos na queda dos índices de violência se a Receita Federal utilizar seu serviço de inteligência, seu efetivo de auditores, analistas e funcionários para efetuar um trabalho sério de controle aduaneiro de mercadorias em fronteiras, portos e aeroportos visando a detectar as rotas de entrada de armas ilegais no país, bem como autuar sistematicamente os que, tendo ligação com o crime organizado, sonegam impostos e enriquecem ilicitamente, alimentando o exército de bandidos que nos ameaçam. Somente atacando os pilares do crime venceremos. É hora de acordarmos para o fato de que só com a participação da Receita esta guerra terá o fim que queremos.
Fonte: O GLOBO - OPINIÃO
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