Mais da metade dos brasileiros residentes em áreas urbanas vê filmes piratas, revela levantamento da Associação Cinematográfica dos EUA (MPAA, na sigla em inglês), obtido com exclusividade pela Folha.
O foco do estudo são as perdas ocasionadas pela pirataria na economia do país durante 12 meses até o terceiro trimestre de 2010. A compra de DVDs falsificados é a modalidade mais comum, praticada por 45%.
Segundo estimativas da MPAA, 456 milhões de unidades de filmes piratas circularam no país. O consumo ilegal de filmes ocasionou, pelos cálculos, perdas diretas de R$ 4 bilhões para o setor cinematográfico.
O estudo aponta que, por conta da pirataria de filmes, o Brasil deixou de arrecadar R$ 976 milhões em impostos e, se contabilizadas as perdas indiretas, o país teve extraído do PIB R$ 3,5 bilhões.
PARADOXO
De acordo com o vice-presidente-executivo da MPAA, Greg Frazier, os dados "demonstram a gravidade do problema". A associação representa os maiores estúdios (como Disney e Sony).
Para especialistas em direitos autorais e representantes do setor, se a indústria cinematográfica vai mal, o mesmo não pode ser dito sobre o audiovisual em si.
A cineasta Anna Muylaert ("É Proibido Fumar") resume a questão:
"Existe um paradoxo. Cai o número de pessoas que vão ao cinema, mas cresce o volume dos que veem filme. O audiovisual nunca esteve tão poderoso".
"O discurso antipirataria costuma enfatizar repressão em detrimento de estratégias econômicas para algo que é, em essência, um problema econômico", concorda o advogado Pedro Mizukami, do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito-Rio.
"Os estudos produzidos pela indústria insistem em perdas como se o dinheiro se esvaísse da economia, mas é óbvio que a receita continua na economia, circulando de diferentes maneiras", diz.
Para a secretária-executiva do CNCP (Conselho Nacional de Combate à Pirataria), Ana Lúcia Gomes Medina, "a indústria cinematográfica ainda tem tempo para criar um modelo de negócio, mas precisa enxergar algo mais moderno e que traga vantagens reais ao consumidor".
A lei brasileira que regula o direito autoral sobre obras culturais é de fevereiro de 1998, quando a banda larga comercial ainda não tinha chegado ao Brasil.
A MPAA promoveu levantamentos idênticos em países da Europa, da Ásia e da América do Norte -apenas Canadá e Austrália tiveram seus resultados divulgados por enquanto. O maior nível de consumo de filmes piratas, até então, havia sido registrado na Austrália (33%).
O último estudo desse porte divulgado pela mesma associação, em 2006, apontava que a indústria cinematográfica havia perdido R$ 9,6 bilhões no mundo.
Fonte: Folha de S. Paulo
Artikel Terkait: