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24 de junho de 2012

GAZETA DO POVO: DIRETOR DO SINDIRECEITA FALA SOBRE AS FRONTEIRAS


Christian Rizzi/ Gazeta do Povo / Dezesseis novos guichês foram construídos na aduana: a estrutura foi abandonadaDezesseis novos guichês foram construídos na aduana: a estrutura foi abandonada
MIGRAÇÃO

PF afrouxa fiscalização na fronteira

A Polícia Federal suspendeu, há mais de um mês, sistema que previa o controle migratório de todas as pessoas que passam na fronteira de Foz com Puerto Iguazú, na Argentina
Dois anos depois de iniciar os testes para a implantação de um sistema inédito de controle migratório total na aduana da Ponte Internacional Tancredo Neves, entre Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, e a vizinha argentina Puerto Iguazú, o Departamento Nacional de Polícia Federal decidiu pôr fim ao projeto piloto. A ideia era verificar a viabilidade de se adotar em todos os postos de fronteira do país o mesmo modelo de controle de pessoas empregado nos embarques dos aeroportos brasileiros.
O rigor na fiscalização exigiu a construção de 16 novos guichês, a instalação de equipamentos e softwares específicos e a contratação de funcionários terceirizados para a verificação dos documentos de viagem e os registros de entrada e saída do país. Os investimentos iniciais para a reestruturação da aduana foram de aproximadamente R$ 250 mil, sem contar os custos com salários e manutenção. Entre os benefícios estaria a possibilidade de se identificar e barrar foragidos da polícia e pessoas impedidas de ingressar no país.
Fragilidade se estende por todo o país
Quase sem estrutura de fiscalização, os 16,8 mil quilômetros de fronteira do Brasil com outros dez países são um convite para a livre atuação de quadrilhas internacionais de contrabandistas e narcotraficantes. Ao todo, 63 postos de fiscalização estão instalados em pontos limítrofes: 32 deles são da Receita Federal; 18, da Polícia Federal; e 14, da Polícia Rodoviária Federal. Algumas das unidades funcionam de forma integradada e a maioria dos postos se concentra nos três estados do Sul.
O diretor de assuntos aduaneiros do Sindicato Nacional dos Analistas Tri­butários da Receita Fe­deral (Sindireceita), Moisés Hoyos, revela que a falta de estrutura e de efetivo faz com que a fiscalização das mercadorias e pessoas que entram ou saem do país acabe sendo feito somente de um lado da fronteira. “Em muitos casos, a segurança do Brasil nas fronteiras depende do controle feito pelos países vizinhos. Mas um indivíduo procurado pela polícia aqui não é um foragido lá”, explica.
Sem servidores em número suficiente, alguns pos­tos funcionam apenas em horário comercial (como em Capanema, na fronteira com a Argentina) e a segurança é mantida por um guarda patrimonial. “Nessas condições é impossível abordar veículos, vistoriar cargas e ainda fazer os trâmites de migração. Além disso, lidamos diariamente com contrabandistas e traficantes”, reforça Hoyos, ao chamar a atenção para a necessidade de se autorizar o porte de armas à categoria também fora do expediente.
Outro fator importante­­ é o investimento em prevenção. “É preciso mudar o enfoque da segurança pública no país, antecipando-se ao crime”, aponta o vice-presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Pa­raná, Naziazeno Florentino Santos Júnior. As atividades burocráticas de controle migratório, observa ainda, são de extrema importância e complementam as demais ações, como as de inteligência e as ostensivas. “O bandido precisa saber que o trabalho dele será dificultado nas fronteiras vigiadas e nas não vigiadas.”
Entretanto, cortes suces­­sivos no orçamento do Minis­­tério da Justiça e a pressão do sindicato dos policiais federais para que a função fosse exercida exclusivamente por servidores concursados levaram à dispensa gradual, a partir de maio, de 51 trabalhadores contratados. Atualmente apenas 16 funcionários permanecem no local.
Com os guichês desativados há mais de um mês, os trâmites migratórios do lado brasileiro, antes feitos no sistema 100% (todas as pessoa passavam pelo controle migratório, independentemente do destino), voltaram a ser restritos apenas aos que viajam para regiões da Argentina além da faixa de fronteira. No lado argentino, o registro de entrada e saída é obrigatório.
Em nota, a superintendência da PF no Paraná argumentou que “o controle migratório, da forma como vinha acontecendo, não apresentou resultados satisfatórios, pois demandava alto custo e quase a totalidade das pessoas fiscalizadas era de moradores fronteiriços”. A PF ainda garantiu que “os valores economizados com a diminuição desse gasto serão investidos em ações de inteligência e operações policiais que possibilitarão um maior controle dessa fronteira”, lembrando que os governos dos dois países estão estudando formas de integrar o controle das duas aduanas.
O reforço na fiscalização em toda a área limítrofe do país faz parte do Plano Estratégico de Fronteiras, lançado há um ano pelo governo federal. Entre as ações previstas estão o combate ao crime organizado por meio de operações conjuntas permanentes, como a Sentinela, e a estruturação dos órgãos de segurança que atuam nestas regiões. A previsão é de incremento de 50% no efetivo de fronteira até meados do ano que vem, além da construção de 12 novas delegacias e reforma de outras sete.




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