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18 de abril de 2013

Cresce apreensão de anabolizantes



Aberto para o perigo
Autor(es): RENATA MARIZ » HELENA MADER
Correio Braziliense - 15/04/2013
 

Só na fronteira com o Paraguai, a Receita Federal apreendeu no ano passado 49.670 unidades de “bombas”, frascos de suplementos alimentares e vitaminas. O brasileiro está consumindo essas substâncias de forma perigosa, alertam endocrinologistas e especialistas em medicina desportiva

Em 12 meses, a apreensão de anabolizantes e suplementos alimentares cresceu 320% na fronteira com o Paraguai, principal rota de produtos contrabandeados. Volume de hormônios confiscados nos três primeiros meses de 2013 já supera o registrado no ano anterior                                        

No país vice-campeão mundial em cirurgias estéticas, onde o uso abusivo dos remédios emagrecedores levou a restrições na venda e segundo mercado de academias de ginástica — com 6,7 milhões de matriculados em 22,4 mil estabelecimentos, perdendo apenas para os Estados Unidos —, é grande o alvoroço em torno de substâncias que prometem acelerar a conquista do corpo perfeito. Além dos anabolizantes, que são medicamentos de controle especial, uma série de produtos agrupados no conceito genérico de suplementos tem sido consumida de forma perigosa no Brasil — sem orientação médica ou nutricional. O comércio ilegal, que trabalha principalmente com formulações proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nunca foi tão intenso no país.

Só na fronteira com o Paraguai, a Receita Federal brasileira apreendeu 49.670 unidades de anabolizantes, frascos de suplementos alimentares e vitaminas em 2012 — um aumento de 320% em relação ao ano anterior, que fechou com 11.593 produtos. Apenas nos três primeiros meses de 2013, foram 1.589 hormônios sintéticos confiscados, 56% a mais que todo o montante do ano passado, e 11.743 suplementos. Juntos, o volume total de janeiro a março já representa 25% de tudo que foi apreendido em 2012. Ao contrário dos demais órgãos no país, que classificam tais produtos como medicamentos sem distingui-los de substâncias com outras finalidades, como abortivos e estimulantes sexuais, a Delegacia da Receita em Foz do Iguaçu (PR) faz controle específico por estar, exatamente, no ponto mais crítico do país.

É pelo Paraguai que entra a maior parte do contrabando. Por isso os dados da Receita Federal no Paraná representam bem a dinâmica do comércio ilegal das “bombas” no país. Os fiscais flagram tanto produtos liberados no Brasil trazidos em grandes quantidades quanto pessoas tentando entrar com remédios e anabolizantes de venda proibida no território nacional. Diretor de Assuntos Aduaneiros do Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da Receita Federal (Sindireceita), Moisés Hoyos diz que é comum servidores do órgão se depararem com medicamentos sem registro na Anvisa. “Às vezes esses anabolizantes não têm sequer rótulos. A maioria dos que trazem essas substâncias tenta entrar no país pela fronteira seca. Infelizmente, nossos postos não funcionam 24 horas”, comenta Moisés.

Os produtos que são febre no mundo “fitness” também vêm dos Estados Unidos e da Europa. “Muita gente, geralmente quem também faz uso das substâncias, viaja para esses países e traz para vender para os colegas, no boca a boca, na academia ou anunciando na internet”, destaca Cláudia Alcântara, delegada da Coordenadoria de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e Fraudes (Corf) da Polícia Civil do Distrito Federal. De acordo com ela, a polícia ainda não encontrou grandes grupos organizados por trás dessa comercialização. A prática, que pode render até 15 anos de prisão no caso de venda ou distribuição de substâncias proibidas, é feita de forma pulverizada.

Apesar da punição dura, dificilmente alguém vai preso. “Com essa pena desproporcionada, o Ministério Público tende a não denunciar e, quando o faz, o Judiciário absolve”, explica o promotor Diaulas Ribeiro, da Promotoria de Defesa da Saúde do Distrito Federal. De fato, não há registro de presos pelo delito, classificado como crime contra a saúde pública, no Sistema de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça, que reúne dados de todos os detidos no país.

Orientação

No mercado clandestino ou na comercialização lícita, especialistas em saúde são unânimes em alertar para a necessidade de orientação profissional antes do consumo de qualquer substância. “Anabolizantes são um caso à parte, pois não devem ser usados para fins estéticos. E no grupo dos suplementos, o que vemos hoje são composições com substâncias pré-hormonais, que aceleram o metabolismo, muitas delas inclusive proibidas pela Anvisa”, destaca o médico Alexandre Hohl, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Ele destaca casos recentes, como os produtos Jack3D, Lipo-6 Black e OxyElite Pro, proibidos pela Anvisa no ano passado, por conterem dimetilamilamina.

A substância é um estimulante que ajuda no emagrecimento, aumenta o rendimento físico e contribui para a definição muscular. Por outro lado, libera adrenalina, aumenta a pressão arterial, podendo resultar em infartos e até acidentes vasculares cerebrais. O mesmo cuidado é recomendando no caso de produtos classificados como termogênicos, por conterem substâncias que aumentam a temperatura do corpo auxiliando a queima de gordura, e os pré-treinos, contendo vasodilatadores, como a efedrina, também banida no Brasil, para facilitar a passagem de oxigênio pelos vasos sanguíneos.

Atenção ao rótulo, portanto, é fundamental. “Há uma proliferação de suplementos importados à base de proteína com essas substâncias perigosas. Algumas composições trazem até anabolizantes, descritos em letras miúdas e em outra língua”, adverte Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Ele também critica a ingestão indiscriminada de vitaminas. “Primeiro vem o desperdício de dinheiro, ao se tomar, por exemplo, doses diárias superiores a 60mg de vitamina C. É o limite que o corpo consegue metabolizar, o resto sairá pela urina. Mas as vitaminas A, D e E acumuladas podem trazer problemas nos rins e fígado, além de alterações visuais e fragilidade óssea”, explica Souza.

Quando não vêm “batizados” com substâncias nocivas, os suplementos à base de proteínas, carboidratos, aminoácidos e creatina são recomendados pelos profissionais, observada a real necessidade do organismo. Muitos dos consumidos aleatoriamente hoje têm indicação apenas para atletas de alto rendimento. “É preciso dosar, saber a rotina de exercícios da pessoa, doenças preexistentes, antes de decidir pelo uso. Mas o que vemos é muita gente se baseando no colega”, diz Leandro de Brito, nutricionista esportivo. Ele destaca que a melhor forma de consumir tais compostos é por meio de uma alimentação correta.

Distrito Federal

Em janeiro passado, o Correio mostrou que, depois de proibido pela Anvisa, o suplemento OxyElite Pro era vendido livremente em lojas do DF. Por aqui, o uso ultrapassa o universo das academias. Na capital dos concursos públicos, o estimulante também é tomado para dar mais concentração na hora de estudar. Segundo Hugo Correia, chefe da Delegacia Fazendária da Polícia Federal, cidades populosas e desenvolvidas são polos consumidores de tais produtos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.


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